Já o referi por várias vezes, que José Luís Peixoto é, do que conheço, o melhor escritor português da actualidade.
Esta semana é dedicado à sua poesia.
Fingir que está tudo bem
fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.
José Luís Peixoto
A criança em ruínas
5 comentários:
nao nos resta nada mais por vezes senao fingir...uma vez por ser um pouco cobardes...outras por precisar de algo melhor ...
Acredito que não deveria ser assim, mas em muitas situações não conseguimos ser diferentes ...
E porque gostas de poesia, aconselho vivamente esta entrevista... =)
http://conclavedosdeuses.blogspot.com/2010/03/joan-margarit.html
Obrigado pelo aconselho :)
Concerteza que a irei ouvir...
De nada! =)
Vale mesmo a pena! Não sei por quanto mais tempo ficará pelo site da rtp, por isso apressa-te... ;D
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